Farsante do eterno

Giuliana Fletcher
2 min readJul 16, 2024

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Com quantos caracteres a esperança pelo amor eterno se reconstrói?

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Entre o que foi escrito e o que estava guardado no rascunho, saí para uma pausa dos rabiscos e nessas andanças num imprevisto, te avistei.

Em silêncio, caminhei devagar, saindo da calçada para o meio da rua.

Tu logo achou que eu iria me submeter aos riscos dos acidentes causados quando o sinal abrisse, mas eu sabia que, se eu permitisse, uma enxurrada de emoções iria me atropelar.

A esse ponto da parada da vida em que desci, precisei te confrontar na curvatura e precocemente, declarar:

“Se quiser permanecer ao meu lado nessa estrada, conquiste a minha mente, pois no caminho, meu coração já cansou.”

Então, tu pôde compreender que não adiantaria exaltar a beleza do que me encanta, anunciar o sol no céu ou expressar teu fascínio, pois as palavras não me dominam…

Meu bem, palavras não passam de reflexos que projetam pouco ou quase nada do que realmente entregamos.

… Sabe como eu sei?

Sei porque sou uma farsante na arte da descrição do amor…

Por isso, quem me apanha nas entrelinhas imagina que eu tenha expectativas de ida à Lua, ou que borboletas ainda flutuam no meu estômago e que meu aroma favorito é de chiclete de melancia…

Mas tu, que me encontrou agora, na mão da precaução de quem já não atravessa do meio fio para o outro lado da rua, sabe que enxergo o amor como uma passagem finita. Tu estás ciente de que a racionalidade enfim me devorou.

Claro, meu amor. Se eu também sou feita de carne e fervo por dentro, como qualquer outro mortal, por que eu perderia a oportunidade de ser e ter uma companhia nessa estrada?

Bobo é quem tenta questionar o inquestionável!

Mas as feridas do meu coração já suportam band-aid para encarar tamanha ilusão.

Porém a minha mente, mesmo que bagunçada, ainda alterna entre precavida e interessada quando se trata da paixão.

E já que você chegou… Não deixarei de fazer uma festa.

Vou te enfeitar com as mais belas manifestações e atos guardados no meu templo sagrado.

Te recebo com a sede do céu escuro que aguardou pelo brilho das estrelas.

Venha e ilumine o centro do meu peito!

Deixa eu te oferecer morada, presença, cor e amor.

Coisas que apenas palavras ditas não fariam tua alma pulsar.

Pois palavras são apenas um emaranhado em formato de buquê de texto.

Mas no meu papel de farsante amorosa, temporariamente entregue, serei capaz de marcar para sempre o teu peito. Mesmo sabendo que, uma hora dessas, a festa das luzes azuis vai acabar.

Texto: Giuliana Fletcher

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